Linha La Fuente San Esteban – La Fregeneda: Hinojosa del Duero -> Barca d'Alva

18 e 19 de Março de 2008

Lista de Reprodução dos Vídeos da Aventura: AQUI
Galeria de Fotografias da Aventura: AQUI


E eis que chega o momento da nossa tão esperada 5ª Aventura. Como se trata de uma aventura em Espanha, numa linha cujo acesso é muito dificultado pela falta de transportes e é uma caminhada que não é muito curta, tivemos de realizar um longo trabalho de logística. Chegámos à conclusão que eram necessários 2 dias para se efectuar a caminhada.
Trata-se da linha La Fuente San Esteban – La Fregeneda, que continua a Linha do Douro para lá de Barca d'Alva (fronteira). Com uma extensão de 77 km, encontra-se completamente desactivada desde 1 de Janeiro de 1985, já que não era rentável para a Renfe (empresa do caminho-de-ferro espanhol). Permitia a ligação entre cidade do Porto e a fronteira francesa, sem passar por Madrid. O nosso objectivo era caminhar entre o apeadeiro de Hinojosa del Duero (km 52), e a estação de Barca d'Alva (fronteira, km 77), passando pela estação de Fregeneda (km 61.021).

Assim sendo, tudo começou na estação de Porto - Campanhã às 7 horas do dia 18 de Março de 2008. Após adquirirmos os bilhetes, deslocamo-nos para a plataforma que iria permitir o acesso ao comboio com destino ao Pocinho.
Estávamos à espera de viajar numa UTD 600 (Unidade Tripla Diesel), que era a automotora habitual, quando nos deparámos com a chegada na linha onde iríamos embarcar, de uma locomotiva da série 1400 que traccionava carruagens Sorefame. Tivemos, então, oportunidade para assistir à manobra de colocação da máquina do lado oposto do comboio para seguir a marcha para o Pocinho. Pode ser um pouco confuso para quem não conheça bem esta estação, mas passamos a explicar: estávamos na linha 6 quando a máquina chegou com as carruagens. Como o comboio veio do parque de Contumil, o comboio teve de se mover em direcção Pocinho - Campanhã (pois Contumil já fica a caminho do Pocinho). Quando aqui chegou, teve de inverter o sentido, passando pouco após a sua partida pela estação de Contumil (sem paragem) com destino ao Pocinho.



Manobra finalizada, lá vamos, pela primeira vez, puxados por uma locomotiva série 1400 com o seu barulho característico (que gostamos muito). Partida de Campanhã: 7h25.
Optamos por fazer a viagem na íntegra perto da máquina (na primeira carruagem, portanto), junto das portas de entrada de passageiros na carruagem. Uma viagem sempre de pé, mas que adoramos muito. Íamos à janela da porta, abríamos a porta, etc.
















Depois de uma viagem maravilhosa lá chegámos à estação do Pocinho (só cá tínhamos estado na 1ª Aventura). Eram cerca das 10h45. Pouco após a chegada do comboio, iniciaram-se as manobras de inversão de sentido de marcha da locomotiva, novamente. Não nos foi possível visualizar essas manobras na íntegra pois tínhamos de embarcar num autocarro da empresa que garante o transporte entre Barca d'Alva e o Pocinho.



Entramos nesse autocarro (com uma pintura mais moderna daquela que tínhamos verificado da última vez que lá estivemos) que nos levaria a Barca d'Alva, onde já nos esperava o Sr. Andrés e o pessoal do único restaurante ali existente para almoço (o restaurante do Sr. Jaime Caleiro).



Esta viagem parece enorme e interminável! Demora mais tempo ir do Pocinho a Barca D'Alva do que do Porto ao Pocinho. Devido ao terreno muito acidentado nesta zona, o autocarro tem de seguir por uma estrada onde predominam as curvas, os precipícios e onde para fazer uma distância relativamente curta, dá-se cá uma volta...!
Pouco tempo após a partida do autocarro chegámos a Vila Nova de Foz Coa. Aqui, o autocarro parou durante uma hora. Decidimos, então, fazer uma visita a esta cidade. Um local pacato, pequeno que serviu para tomar um café e apreciar o pessoal e as construções desta região. Voltamos ao autocarro e seguimos viagem. Passamos por algumas populações (porque tem tudo de ser servido por este meio de transporte) e, cerca das 13H30 chegamos a Barca d'Alva.

Mal chegamos, entramos em contacto com o Sr. Andrés, um senhor muito simpático com o qual combinamos que iria ser o nosso transportador até Hinojosa del Duero, do outro lado da fronteira. Mas há que haver prioridades! E primeiro tínhamos de almoçar! Para isso, entrámos na residencial Bago d'Ouro, ao pé da estação de Barca d'Alva, onde o pessoal já nos esperava.
Foi um almoço algo curioso. Dissemos que éramos o grupo de entusiastas de caminho de ferro que vinha do Porto para almoçar naquele restaurante. Muito atenciosamente disseram: sim senhor...!
Sentámos e logo nos perguntaram o que nós iríamos beber. Ora, num restaurante, o normal é primeiro perguntar o que escolheríamos para comer. Mas não! Pedimos as bebidas... Pouco depois, serviram-nos uma grande travessa com batatas cozidas com fígado. Ficamos perplexos, mas comemos apesar de nenhum de nós gostar de fígado.... Pensamos logo: nestas terras paga-se aquilo que não se quer comer. Enfim, o funcionamento de um restaurante um pouco antigo.

Acabamos de comer e dirigimo-nos para a viatura do Sr. Jaime Caleiro (dono da residencial), conduzida pelo Sr. Andrés que nos levou a Hinojosa del Duero, uma povoação espanhola pouco depois de La Fregeneda.
Como o Sr. Andrés foi um indivíduo muito ligado à ferrovia (já que fora guarda fiscal na estação de Barca d'Alva) falou-nos de algumas peripécias e curiosidades que aconteceram nos tempos em que o comboio lá passava. Fica aqui a mais interessante:
Um dia, andavam em manobras da estação da Fregeneda. Finalizadas as manobras, o maquinista frenou a sua máquina e foi para o edificio da estação. Pouco depois e por algum motivo, a locomotiva começou a mover-se entrando na linha (que é sempre a descer) que liga Fregeneda a Barca d'Alva. A partir daí, o pessoal ficou em pânico: havia material circulante em movimento desgovernado na linha. Toca a avisar o pessoal da estação de Barca d'Alva que, desde logo, mobilizaram os meios para descarrilar aquele material num local seguro, fechando a circulação na linha. Mas esse material nunca mais chegou, sabendo-se, depois, que se tinha descarrilado (mas não caiu em nenhum precipício), sendo depois recuperado.

Durante o caminho passamos no centro da povoação de La Fregeneda e seguimos em direcção da estação de Hinojosa del Duero, passando também pelo centro deste local.
Chegados à estação, mais concretamente, ao apeadeiro de Hinojosa, despedimo-nos do Sr. Andrés e demos inicio à nossa caminhada, tirando fotografias ao edifício do apeadeiro e analisando-o. Eram 16 horas (hora portuguesa) quando demos o arranque da caminhada mais espectacular até à data. O céu estava a ameaçar uma chuvita mas lá se aguentou, ao contrário do Porto, onde chovia.



Apeadeiro de Hinojosa de Duero - km 52.5


Os primeiros quilómetros foram de adaptação. Ainda não acreditávamos que íamos estar na estação que vimos inúmeras vezes através da internet e que nos suscitava muito interesse. Inicialmente a linha não tinha muita vegetação, ficando-se pelo balastro e por uma paisagem pouco acidentada, ou seja, plana. O que nos divertia mais era uma buzina que levamos e que fez algumas pessoas (pastores da zona) pensar que o comboio voltou àquela linha. Mas éramos apenas nós: os The Brave Ones!



E lá fomos percorrendo os 9 quilómetros que ligam Hinojosa del Duero a Fregeneda, onde estava planeado pernoitar. De 30 em 30 minutos fazíamos uma pausa na nossa caminhada, já que levávamos muito peso nas costas: a tenda, sacos cama, comida, instrumentos como lanternas, etc.
Até que chegamos ao sinal avançado que regulamentava a entrada na estação de La Fregeneda. Este foi um dos momentos mais emocionantes. Estávamos a chegar ao "the Dream" (sonho).



E já víamos a estação lá ao fundo. Continuando a caminhar, e mesmo antes da estação, temos a primeira ponte para atravessar, a ponte sobre o rio Froya (km 60).

Ponte sobre o Rio Froya
 É uma das mais compridas que atravessámos e serviu de prova e amostra do que iríamos atravessar no dia seguinte. Esta meteu um pouco de medo é que (não é por nada) tem uma altura máxima de 35 mts e alguns ferros do gradeamento são inexistentes. Grande prova de equilibrismo! Mas prova passada e serviu para nos dar coragem para o dia seguinte.

Chegamos finalmente à estação de La Fregeneda, perto das 19h00, e o sol já estava a fugir. Com isto, após uma visita rápida à estação e edifícios adjacentes, procuramos um local para montar a tenda. Após alguma ponderação, decidimo-nos pela frente da estação. Montamos a tenda e fizemos fogueira para aquecimento (já se começava a sentir algum frio) e para o churrasco. Um dos problemas que tivemos durante a noite foi a lenha: Onde buscar lenha? Facilmente resolvido: aproveitamos a estação de Fregeneda! ;-) Tudo o que era madeira que encontramos nós usamos, inclusivamente portas, janelas... Também já estavam a cair de podres, só transformamos o inútil no útil! Todo este clima, proporcionou-nos momentos de grande diversão. O nosso churrasco estava espectacular e ficamos bem "cheios"! Até mesa tínhamos, montada por nós aproveitando os tijolos da estação.


No meio disto, às vezes ouvíamos uns barulhos estranhos que assustavam um pouco. Decidimos, então, deixar os nossos restos de comida do outro lado da estação, longe do local onde a tenda estava instalada. Isto para ver se haviam animais por perto. No dia seguinte já nada lá estava. Podiam tratar-se de raposas, etc. Nada de especial!
Fomos dormir por volta da meia noite, tendo cuidado de deixar a fogueira fraca e isolada com pedras. Foi relativamente difícil, mas passado um pouco, estava toda a gente a dormir num chão pouco confortável.
No dia seguinte, perto das 5 horas da manhã já estava tudo acordado, pois o frio era bastante. Então, toca a acender a fogueira novamente, o que não foi fácil devido à geada que se fazia sentir.


Estavam perto de 0 graus! Com a ajuda do fogo aquecemos num instante. Fomos comendo qualquer coisa e, quando a luz já era suficiente fomos fazer uma visita mais detalhada dos edifícios que se encontravam ao pé de nós, tirar fotos, etc. Nas casas situadas perto da estação, já chegaram a morar cerca de 8 mil homens aquando da construção da linha e da estação. Desta forma, como foi um local muito povoado, tem o nome de Valdenoguera.
Após a nossa visita às instalações da estação, desmontamos a tenda, despedimo-nos da estação e pusemo-nos a caminho de Barca d'Alva pelo percurso denominado "Ruta de Los Tuneles". Partimos às 8h30. Só nestes 17 km entre Fregeneda e Barca d'Alva existem 20 túneis e 13 pontes o que torna uma caminhada bastante entusiasmante.

Estação de Fregeneda - km 61

Logo à saída de Fregeneda existe o 1º túnel, o maior de todos, com 1500 mts. Cerca de meia hora depois, e estamos do outro lado! Muito comprido mesmo...

À entrada do Túnel 1

É no túnel 3 que a linha passa de perpendicular à fronteira a paralela. Desta forma, o túnel faz mais de 90º à direita e devido ao seu comprimento (403 mts) existem muitos, muitos morcegos no seu interior. Os seus dejectos fazem, no seu interior, montanhas (vejam bem!). Foi o túnel mais dificil de passar: era um cheiro no seu interior!
Entrada do Túnel 3

Colónia de Morcegos existente no tecto do Túnel 3

E lá fomos passando as pontes e os túneis. Nas pontes, sempre que possível, utilizávamos a passadeira de madeira para uma passagem mais fácil, mas há algumas pontes que tem mesmo de ser pela viga metálica devido ao seu mau estado.
O nosso local de almoço foi dentro do túnel 6, o túnel de Poyo Valiente com 357 mts de comprimento. Ou melhor, foi na abertura que ele tem para o exterior, de onde se pode desfrutar de uma paisagem belissima. A comida até sabe melhor com uma vista daquelas!
Foi com esta paisagem de fundo que almoçámos...

O momento mais difícil foi o atravessamento da ponte El Lugar (km 70) devido ao forte vento que se fazia sentir. Sendo uma ponte em muito mau estado, tivemos de a atravessar através da viga metálica. Além disso é bastante comprida, com 140 mts. Passamos momentos de alguma tensão, mas nada que fosse intransponível para os The Brave Ones!



A ponte em curva também foi uma grande curiosidade da nossa caminhada já que é a única ponte do género em Espanha e se encontra em muito mau estado. O seu atravessamento também é algo que impõe respeito!

A Ponte em "curva" - Ponte de Poyo Valiente

Um obstáculo do qual não estávamos à espera e ficámos bastante surpreendidos foi o pontão de Cegaviño. Não tem passadeira de madeira, nem travessas... Apenas tem a viga metálica com a linha em cima o que tornou a passagem algo complicada, já que teve de se efectuar por deslocação lateral. Havia um caminho alternativo a este pontão, mas nós não sabíamos de tal aquando da caminhada.

Pontão de Cegaviño
 Estávamos nós a descansar antes da última ponte, quando demos conta de um pequeno grupo que vinha em sentido contrário. entraram na ponte mas nem chegaram a meio. Como havia muito vento, voltaram para trás, desistindo. Para eles era a primeira ponte! Para nós a última! Os The Brave Ones, sim, são os mais corajosos!!!!






Chegamos a Barca d'Alva por volta das 17 horas. Esta última parte do percurso tornou-se muito nostálgica para nós: o último túnel, onde tínhamos almoçado na primeira aventura, a ponte Internacional sobre o Rio Águeda, a própria estação de Barca d'Alva... Tudo lembranças da primeira aventura, que nos fizeram ficar a olhar para a linha que vai até ao Pocinho e lembrar de muito do sofrimento da 1ªaventura.
Ponte Internacional de Barca d'Alva
Estação de Barca d'Alva - km 199 (Linha do Douro)

Mas viemos embora porque o Sr. Andrés estava à nossa espera para nos levar, desta vez, para a estação do Pocinho.
E chegámos finalmente ao Pocinho. sentíamos que a aventura estava a acabar... Como ainda faltava cerca de 30 min para o comboio, decidimos ir averiguar um pouco da linha do Sabor. É uma linha, em via estreita, ligava a estação do Pocinho a Miranda (Duas Igrejas). São 105 km numa linha cujos carris praticamente já não existem. Foi encerrada em 1988, mas só em 2000 a Refer se encarregou de retirar os carris. Perto do Pocinho, os carris ainda resistem. Passamos a ponte rodo-ferroviária que já se encontra encerrada por risco de colapso, e percorremos o primeiro quilómetro desta linha.

Ponte da Linha do Sabor, sobre o Rio Douro
Linha do Sabor

Quando achámos ser a melhor altura, voltamos para trás e embarcamos no último comboio com destino ao Porto. Mais propriamente, o último comboio que dá ligação a comboios com destino ao Porto. Embarcámos, então, às 19:05 com destino à Régua. A viagem é nocturna, com uma lua cheia reflectida no rio que torna a viagem de comboio belíssima! Uma perspectiva da linha, durante a viagem de comboio, que nunca tínhamos tido até então! É espectacular!
Chegados à Régua, fizemos transbordo para uma UDD 450 (Unidade Dupla Diesel) que nos levou até Caíde. Como nestas automotoras não podemos viajar à janela (o que nos deixa algo frustrados), decidimos comer, no comboio, aquilo que nos restava. Já estávamos com bastante fome!
Em Caíde, tivemos de mudar novamente, desta vez para uma UME 3400 (Unidade Múltipla Eléctrica), mais conhecida, por nós, como o "amarelo". Como íamos bem cansadinhos e com sono, aproveitamos para descansar e "morrinhar" um pouco, já que não conseguimos ver nada para o exterior do comboio.
Cerca das 23:10, chegamos a Porto - Campanhã e terminamos a nossa aventura de dois dias. Esta aventura deixou-nos muitas saudades. Foram meses de ansiedade para dois dias que passaram num instante! No final estávamos bastante tristes, mas ficam as recordações de uma caminhada espectacular. Para nunca mais esquecer!
Deixámos aqui os contactos para quem quiser realizar uma caminhada semelhante e precisar de transportes, restaurante, etc.
Sr. Andrés - 968418586
Transportes Lopes e Filhos - 271312112 (autocarro entre Pocinho e Barca d'Alva)
Residencial "Bago d'Ouro" (perto da estação de Barca d'Alva) - 271355126

Fotos da Aventura (podem ser melhor visualizadas na nossa galeria de fotos):



Todos os Vídeos da aventura podem ser visualizados através do link no topo.

1 comentário:

António M. Feijó disse...

eSTIVE A VER A VOSSA AVENTURA POR TERRAS DO NORDESTE TRANSMONTANO, E REPAREI NUM TÓPICO RELACIONADO COM A LINHA DO SABOR.
ESTA LINHA, SENDO A MAIOR RAMPA FERROVIÁRIA DO PAÍS, COM DESNIVEL DE 500 MTS NOS 25 KMS INICIAIS,NO TROÇO ENTRE POCINHO E TORRE DE MONCORVO, TROÇO DE 12 KMS, AINDA SE ENCONTRA INTACTO, TIRANDO UM CARRIL OU OUTRO QUE FALTE, AINDA MANTEM BEM PRESENTE A VIA E TAMBEM A ESTAÇÃO DE CRICHA, QUE FICA A MEIO DO PERCURSO.
NO RESTANTE PERCURSO, TORRE DE MONCORVO EM DIANTE, AÍ SIM FOI CONSTRUÍDA UMA ECOPISTA.